No último dia 28, a Serasa Experian, empresa que atua como autoridade certificadora para pessoas jurídicas e físicas, divulgou pesquisa de mercado em que se atestou, no ano de 2024, o recorde de pedidos de recuperações judiciais. De acordo com o estudo, foram registradas 2.273 ações nesse sentido, o mais alto índice desde o início da série história, representando um aumento de 61,8% em relação a 2023.
Particularidades da pesquisa
A alta foi puxada pelas micro e pequenas empresas, com a maior fatia – 1.676 requerimentos – sendo suportada por esse segmento. As médias e grandes empresas, somando 597 pedidos, vêm atrás.
Na contramão desses números, há de se frisar que os pedidos de falências registraram uma queda de 3,5% em relação ao mesmo período. Esses dois dados, interpretados em conjunto, podem sinalizar para qual caminho empresas em dificuldade financeira têm seguido: em vez do encerramento das atividades, a tentativa de recuperação da companhia e reestruturação das atividades como medidas primeiras. Em contrapartida, apesar da resiliência do setor produtivo nacional, os altos índices de recuperação indicam uma realidade tortuosa e desafiadora para os empreendedores que desejam se estabelecer sem maiores sustos.
Fatores e conjunturas
Conforme divulgado em análise da CNN, Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, explica que o aumento se deve, precipuamente, ao “aperto monetário causado pela alta da taxa básica de juros, a Selic”. De acordo com o especialista, “a alta eleva o custo do crédito e dificulta o pagamento das dívidas pelas empresas. Além disso, a inadimplência dos consumidores impacta negativamente o fluxo de caixa das companhias, já que a inflação reduz o poder de compra, diminuindo as vendas e afetando a saúde financeira dos negócios”. Ainda dentro dos dados expostos, percebe-se que o setor de serviços, em concomitância com as pequenas e médias empresas, registrou o maior número de pedidos de recuperação judicial, em um recorte por área.
Nesse contexto, é condizente afirmar que o acesso dificultoso ao crédito atinge, primeiramente, as empresas menores, e, por consequência, mais distante do mercado de capitais e dos aportes vultuosos de investidores das grandes companhias. Ou seja, com a perspectiva cristalizada de alta na Selic, conforme prognósticos já revelados pelo Comitê de Política Monetária (Copom), ao investidor é prudente analisar o cenário de capitais como alternativa para investimentos, e as empresas em recuperação quanto ao seu plano de pagamentos de credores e perspectivas de solvência – meio plausível de se investir “na baixa” para colher resultados futuros, caso o cenário de recuperação seja estratégico e sólido. Não são raros os exemplos de empresas que, mesmo diante das adversidades impostas, estruturam planos de recuperação factíveis e ressurgem com potencial lucrativo no seu respectivo setor.
Recuperação judicial: tentativa de recomeço
O estudo da Serasa Experian lança luz sobre o instituto da recuperação judicial enquanto meio de reestruturação da empresa. Em artigo publicado pelo escritório Carvalho e Fonseca, intitulado Recuperação judicial – Caso Odebrecht (leia AQUI), definiu-se este mecanismo como uma saída à decretação de falência, que permite que a empresa continue com a sua atividade produtiva, ainda que em situação de alto endividamento. Tratada no artigo 47 da Lei de Falências e Recuperação de Empresas (Lei nº 11.101/2005), a alta nas recuperações judiciais aponta para um cenário em que as empresas têm sofrido para sanar as contas em um nível mínimo, que as impeçam de recorrer à justiça para não fecharem as portas.
Essa pesquisa também ecoa interpretações mais profundas no cenário comportamento do empreendedor nacional, qual seja, as dificuldades não têm dissuadido o empresariado de tentar manter seus negócios ativos, nem que, para tanto, seja necessário desenvolver um plano de pagamentos judicializado – e, consequentemente, regido pelo administrador judicial. Outro desdobramento sugerido pelos números é a capacidade de adaptação e resistência do setor privado brasileiro, em face às adversidades monetárias, políticas e geopolíticas, um ímpeto que deveria ser melhor valorizado diante do desequilíbrio entre incentivos e segurança para se investir versus desejo das empresas de continuarem em atividade, mantendo empregos e produzindo para os mercados interno e externo.
A pesquisa da Serasa Experian, primeira e maior datatech do país, somou uma amostragem de mais de dois mil pedidos de recuperação judicial em todo o território nacional e foi organizada pelo Indicador de Falência e Recuperação Judicial da empresa. Caso você queira ouvir a análise do sócio William Carvalho a respeito do estudo, clique AQUI e conheça o nosso Instagram.